Por que os carros antigos são tão caros?

É tudo uma questão de oferta e demanda! Sejamos práticos, não existem varias empresas produzindo em larga escala a dobradiça da porta dianteira de um DKW 1963, e as distribuidoras de autopeças tradicionais, também não percebem valor em estocar e administrar esse item em seu estoque, visto que a demanda por ele é extremamente baixa perto de qualquer outra peça dos carros modernos.

Isso restringe a oferta apenas aos que garimparam arduamente para conseguir uma peça sobressalente esquecida em alguma prateleira empoeirada ou retirada de veículos sucateados, e para essa situação, não existem tabelas e nem convenções sobre o preço, ou seja, o ofertante pede quanto quiser até encontrar um demandante que esteja disposto a encarar o investimento. Nada fora do tradicional mercado capitalista.

Nessa hora, sempre vem à mente dos antigomobilistas, todos os programas do Discovery Turbo onde os protagonistas negociam por valores aceitáveis e as vezes até baixos, uma infinidade de peças para seus projetos. Por impulso podemos até pensar em fazer a conversão dos valores das moedas e imaginar que a peça nem é tão barata assim, mas pensando que os valores estivessem equiparados, concluiríamos que as de lá realmente são mais baratas.

Então, vamos além desse raciocínio. Em primeiro lugar, mesmo a moeda americana estando bem mais alta que a brasileira, há de se considerar que se fossemos trazer a peça para nosso belo país tropical, teríamos impostos que praticamente dobrariam seu preço, então a diferença já seria ruim para o nosso lado. Mas focando no racional da equação, devemos usar bases que possam ser ponderadas, como o salário mínimo, por exemplo.

Considere que o salário mínimo americano é aproximadamente US$1.218,00 (depende muito do estado, mas em média calcula-se US$ 7,25 por hora trabalhada). Como o dólar está cotado a R$6,13, chegamos a R$7.466,34, enquanto o brasileiro fica nos R$1.518,0,00. Isso significa que uma peça que eles compram lá por US$ 100,00, representa 8,21% de um mês do salário do proprietário, enquanto por aqui, ela teria o preço de R$613,00. Isso equivaleria a absurdos 40,38%, podendo chegar a mais de 75% incluindo impostos. É por isso que nas terras do Tio Sam, não são só os abastados que tem acesso às lendas mecânicas automotivas.

Mas você ainda deve estar com algumas dúvidas. Por que os carros antigos são tão caros?Vamos lá! Voltando a questão da lei entre oferta e demanda, essa relação deveria beneficiar os preços ao invés de aumenta-los, porque na teoria, as duas são pequenas, portanto, equilibradas. Mas aí entra em cena um outro estranho comportamento brasileiro, o “consumo por vaidade”, que leva carros de entrada em seus países de origem, como o Fiat 500, o Mini e até mesmo o Beatle, a se tornarem objetos de desejo.

Isso é feito elevando absurdamente o preço e fazendo com que apenas alguns poucos possam compra-los, diminuindo o mercado, mas elevando os lucros às alturas. Com os carros colecionáveis, aconteceu exatamente isso, exceto por alguns poucos modelos, que devido a abundancia de peças, ainda podem ser adquiridos por preços aceitáveis. Esse comportamento “elitizou” os antigos criando preços altíssimos que serviram para moldar um novo e atrativo mercado.

E não pensem que isso é alguma crítica descabida ao modelo capitalista. Ao contrário, trata-se apenas de uma explanação com intuito de preparar todos que pretendem entrar para esse grupo, porque mesmo com as dificuldades e com os altos preços, existem grandes oportunidades, pessoas sensacionais e lugares espetaculares, mas acima de tudo isso, vem a sensação indescritível de estar ao volante de uma dessas máquinas do tempo e sentir na pele a evolução da nossa história.